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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Vovôs e vovós do meu coração

Oi gentem!
Tudo bem?
Eu vou indo.Começaram meus estágios então estou na correria.
Esse post é uma pequena homenagem.
Agora eu estou num lar de idosos.Estou aprendendo tanto.Confesso que vou sentir saudade deles.Cada um me marcou   de uma maneira especial,seja por sua vitalidade, doença,história de vida ou olhar brilhante.
Uma vez me disseram que idosos são como crianças e realmente percebi que esta fragilidade existe.Só é possível perceber no momento que se toca a pele de um idoso e sentimos como ela é fina.Cada marca, cada fio branco conta uma história.
No lar que eu estou tem várias figuras interessantes e no fundo tristes.Seu J.um ex-jogador do Palmeiras que foi praticamente abandonado pelo filho que mora em um condomínio luxuoso do lado do lar e não o visita.
Dona A.uma espanhola de 87 anos que era rica e acabou lá,esperando pela visita da filha.Dona N. portuguesa briguenta mas ao mesmo tempo doce.
Dona V. senhora de aparência refinada,com distúrbio psiquiátrico que acabou xingando a professora de incompetente.A  Guigui no alto dos 105 anos de lucidez e autonomia,que come sozinha porém fui deixada lá pois a familia não tinha condições para cuidar de tal situação especial.Ela sempre fala"eu te peguei no colo,vc era tão pequena!"
Outra florzinha que tem Alzheimer avançado,que não fala ou anda e mesmo assim agita as maozinhas no momento que eu passo e só descansa quando eu seguro-lhe a mão. Dona M.L,que agradece sempre após eu lhe dar o café da manhã pois tem esclerose múltipla e não consegue mais realizar qualquer atividade.Dona Z. toda delicada meio surda e míope porém sempre quietinha.Dona L com suas manias de grandeza decorrente de algum prejuízo congnitivo,dizendo que vais e casar ou que era artista do SBT.Dona C. toda vaidosa e arrumada.Dona M.A que teve seus olhos brilhando ao colocar brincos no gorrinho pois já não tinha mais furos na orelha.Dona B. que foi comprar telesena na lotérica e que me colocou numa saia justa me obrigando a convencer a vendedora a mentir que tinha acabado.
Uma que senta todo dia na porta com a bolsa esperando o pai voltar da Bahia para busca-lá.Seu A. com seus passos rápidos seguindo o carro da minha amiga pois achou que ia sair coma gente.

Tive contato com Parkinson,doença que causa tremores involuntários, Alzheimer em vários estágios onde torna a pessoa esquecida seja varias vezes perguntando a hora do café, guardando bonecas,esperando os pais ou rodando no jardim feito criança, demências diversas,agressividade,esclerose ,dificuldades de diversos tipos e autonomia de alguns .Gostaria de saber como deve ter sido estas mudanças para cada um.Frustrações,medos, prostração perante a incapacidade,principalmente para os mais ativos.Saudades dos familiares, impotência,lembranças de vida,alegrias...Histórias.

Enfim,diversos exemplos de vida.Não posso julgar os mediadores que os deixaram ali.Cada história é uma história .Com toda essa vivencia,passei a refletir o que significa o envelhecer.Manter autonomia cognitiva e funcional,andar,realizar as pequenas coisas do dia a dia é o ideal mas se isso não acontecer,porventura  ser cuidado com respeito principalmente manter a dignidade em todos os sentidos.

Envelhecer na nossa sociedade atual é sinônimo de vergonha.Espero que este conceito seja revisto e superado sendo substituído pelo ato comum de continuidade da vida .Mudanças são obvias mas a dignidade do ser deve sempre ser preservada.

Só posso dizer uma coisa a vocês moradores do Lar:

OBRIGADAAA!!!
Como profissional e como pessoa.
E como uma auxiliar de enfermagem havia me dito no primeiro dia:
"- Eles vão sentir falta de você mas você vai sentir muito mais falta deles."

Bem,se houver espiritualidade ,espero poder reencontrá-los um dia.

Obrigada

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